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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Para não ver o tempo passar!

A embalagem vermelha foi milimetricamente aberta com precisão cirúrgica. A bandeja foi surgindo, cuidadosamente, como se fosse proceder um parto. Nasceu. Eis que posou a caixa de plástico transparente onde continha um frugal desjejum. Cada uma das peças tiveram o mesmo cuidado que recebeu a embalagem.

Apesar da refeição parecer parcimoniosa, os procedimentos eram de quem ia degustrar o melhor dos banquetes. Ela assentou o guardanapo no colo, abriu meticulosamente a geléia, o queijo, as torradas. Com toda a delicadeza do mundo empunhou a faca, de plástico, evidente, e retirou uma lâmina de cada um dos acepipes e, vagarosamente, com toda a calma do mundo, espalha na torrada, como se foie gras fosse.

Mastiga, lentamente, várias vezes, como se assim fosse recomendação médica. Era algo tão inusitado aquele procedimento, que chamava a atenção. Parecia mesmo estar num daqueles restaurantes a la carte, com garçons e tudo o mais.

Não resisti, querida leitora de domingo, e como tudo em avião é motivo - ao menos para mim - passar o tempo, resolvi manter contato. Afinal, conversar não custa...

A moça era bonita, ou melhor, vistosa, como diriam os mais velhos. Fartos cabelos alourados, como falavam antigamente e vestida como se tivesse saído de um passado não tão distante. Perguntei-lhe qual o motivo de tanta pompa para tomar um café da manhã tão sem graça. Nem frutas, nem omelete, nem bolinho, nem tapioca, enfim...

Gosto adquirido não se discute, como sempre, cabeça de repórter é lugar de inquietação, fiz a tal pergunta: "Qual o motivo de tanto aparato, num lugar que nem é mais tão charmoso assim?" A resposta: "Gosto de agir assim, como se em casa estivesse, porque tenho medo, simplesmente, medo de avião. Assim o tempo passa mais rápido." Bom domingo!

Por Mazé Mourão, editora da coluna Vida&Estilo
Do jornal A Crítica, Manaus-AM

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