Muitos jovens são adeptos do “ficar” e, claro, jamais assumem relações sérias. Mas a busca desmedida dos prazeres imediatos, é preciso destacar, pode camuflar tanto insegurança quanto medos e conflitos internos mal resolvidos. O preço que pagam por esse comportamento impetuoso é que fazem escolhas afetivas erradas e vivem relacionamentos superficiais e insatisfatórios.
Foi-se o tempo em que os namorados dançavam música lenta. Nos dias atuais, o ritmo foi substituído pela acelerada batida tecno. Dessa forma, o toque suave na cintura foi trocado pelas "bundadas" do funk. Igual ao compasso da música, os jovens estão apressados e envolvidos em relações sem compromisso. Por trás desse comportamento, pode estar a recusa em aceitar a própria incapacidade de lidar com a solidão, além do medo da rejeição e insegurança. A pior conseqüência de viver dessa maneira é fazer escolhas afetivas erradas e se acostumar com uma vida de misérias emocionais.
Os solteiros em geral parecem estar alérgicos às frustrações e tristezas e não percebem a importância dessas emoções para refinar a personalidade. Assim, insistem em fugir desse desafio e se habituam a viver relações superficiais. O resultado é uma busca desenfreada da satisfação imediata a qualquer preço.
Resta perguntar: o que sobra em termos de afeto do que eles chamam "ficar"? Nada. São dois corpos e nenhuma intimidade. Relação afetiva saudável pressupõe enxergar, sentir, ouvir e processar o mundo interior do outro. Viver relações superficiais é uma armadilha e uma pseudofelicidade. Passado o efeito do uísque com energético e dos beijos descompromissados, os "ficantes" alugam os ouvidos de um amigo e reclamam de solidão, do descaso e da rejeição. Outros até têm uma pessoa fixa com quem se relacionam, mas parecem viciados em enxergar só o lado negativo do namoro estável.
Para esses, a relação afetiva é igual a um bolo. Só querem comer o recheio, ou seja, a parte boa, mas se esquecem dos outros ingredientes essenciais. Antes de assar havia farinha seca, ovo cru e gordura pura. Somente após passar pelo árduo calor do fogo, o bolo está pronto para ser consumido. O difícil é aceitar que nem a vida nem os bolos têm só os ingredientes preferidos. E isso não torna o caminho menos divertido, e sim mais desafiador.
Enquanto a pessoa viver a vida como se tudo fosse descartável, irá desconhecer o prazer de dormir abraçadinho e roçar os pés sob as cobertas. Em outras palavras, a troca de cumplicidade, o cafuné e o carinho. E assim perde a chance de descobrir o significado do amor.
Ser livre não é beijar na boca e não ser de ninguém. É ter coragem, ser autêntico e se permitir viver os sentimentos. Implica arriscar-se, pagar para ver e correr atrás da felicidade. Doar e receber. É compartilhar momentos de alegria e tirar proveito até das coisas ruins.
É claro que isso tudo demanda esforço. Para amar e ser amado é necessário o reconhecimento das diferenças, pois aquele que lidar melhor com as imperfeições do outro é o que sabe administrar as próprias limitações.
Não vale a pena procurar o amor em qualquer lugar ou pessoa. Isso não é compensador. Não adianta esconder-se atrás dos medos, pois nem sempre amar significa sofrer. Envolver-se com alguém implica a capacidade e a disposição de correr o risco de se lançar ao encontro do outro e desvendar a mais bela singularidade, como diz Roberto Carlos (69) na canção Emoções: "Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi!"
Por Karine Rizzardi, psicóloga em Cascavel (PR) especialista em casais, família e em aconselhamento familiar, fez pós-graduação em Psicologia na Chicago University, em Chicago, nos Estados Unidos, membro da Associação Brasileira de Terapia Familiar (Abratef). E-mail: drakarinerizzardi@gmail.com
Do Portal Caras
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