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quinta-feira, 8 de julho de 2010

Manhã de domingo


Cidadezinha do interior.

Observo o vai-e-vem de gente a uma feira livre.

Vão tranquilos. Vêm sem pressa. A vida não requer correria nestas paragens.

Lá vai um casal de meia idade. Pela aparência, já uns 20 anos de vivência em comum. Ele na frente, com sua barriga proeminente. Ela atrás, com a sacola de feira dobrada embaixo do braço. Pelas caras, não tiveram exatamente uma noite de amor. Mas vão juntos à feira. Sagrada missão da manhã de domingo.

Lá vem quatro senhoras. Sessentonas. Às gargalhadas. Uma delas fez alguma travessura, do tipo falar um gracejo ao mocinho da barraca de frutas. Amigas de infância. Felizes.

Descendo a rua em algazarra, uns cinco moleques empurrando carrinhos de sorvete. Nunca ouviram falar do Estatuto da Criança.
- Quer um picolé tio?
- Não, muito obrigado. Ainda é cedo pra picolé.

Cedo demais pra você estar trabalhando também, pensei comigo.

Passa um homem. Quarenta e tantos anos. Segue altivo, nariz apontado, empinando sua bunda arrogante em meio ao povo. Deve ser o gerente do banco. Cargo importante por aqui.

E vai e vem gente ...

Hora é a tia que vai preocupada e volta satisfeita com cara de quem conseguiu comprar o almoço e o dinheirinho ainda deu para comprar um doce para as crianças.

Hora é o casalzinho recente, quase impúberes. Mais beijos e afagos do que compras na sacolinha.

Hora é a família inteira que vem da igreja e vai tomar café na feira. Pai, mãe e cinco filhos na barraca de pastel com caldo de cana. Alegria das crianças.

Gente de toda a sorte.

É manhã de domingo na cidadezinha do interior.

Adriano Trinta
Ilustração - quadro de Aracy, artista NAIF brasileira

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