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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Meu primeiro carro


Diferente da maioria das pessoas de minha época, meu primeiro carro não foi um fusca. Nada contra o besouro, tive muitos e muitos fuscas no decorrer dos anos. Mas, por uma questão de oportunidade comecei com um Passat.

Para um jovem de 20 anos de idade, ter um Passat era equivalente a hoje ter um Honda Civic. Tudo muito maravilhoso, se eu tivesse usufruído do bem.

Foi assim:

Em 1983 fui aprovado num concurso público e comecei no meu primeiro emprego "de verdade". Num banco estatal, carteira assinada, bom salário, lugar cobiçado numa época em que ser bancário era sinônimo de status profissional.

Uns três meses depois, um colega do trabalho, bem mais velho ( e muito mais sabido que eu), anunciou que estava vendendo um carro, "um Passat GLS, branco,  ano 1979, modelo 1980, lataria 100%, motor jóia-jóia, caixa de marcha OK, todo documentado perante o Detran, dois pneus novos e dois meia-vida, carro de mulher". Pirei o cabeção. Eu tinha que comprar aquele carro.

Não lembro mais o preço do carro, nem adiantaria eu falar aqui porque era outra moeda vigente no Brasil. Só sei que catei o dinheiro que tinha e o que não tinha, meu e da família; e ainda fiz um empréstimo na caixa de assistência pecuniária do banco, pra pagar em muitos meses descontando no meu salário.

Comprei o carro!

Que felicidade! Que felicidade!

Detalhe: eu ainda não sabia dirigir... o vendedor, mui amigo, foi me levar em casa no meu carro novo!

Em casa o primeiro problema: não havia garagem! Às pressas, quebramos parte da cerca improvisando uma entrada para o carro não dormir ao relento (naquele tempo já havia roubos de carro sim).
Passei a noite admirando o carro, dormi dentro dele, com o toca-fitas ligado, curtindo minha grande conquista...

Ao amanhecer, um problema: bateria descarregada, nem sinal na ignição... eu começava a ver o lado negro de ter adquirido um carro usado sem o menor conhecimento de causa e sem pedir ajuda aos universitários.

Esse foi apenas o primeiro de uma série de dissabores.

A única vez que o carrão saiu da "garagem", pelas mãos de um amigo que sabia dirigir, foi para ir a uma oficina fazer o que eu deveria ter feito antes de compra-lo. Avaliar os problemas. Muitos. Inúmeros. Tantos, que eu nao me animei a consertar. O carro voltou para casa do mesmo jeito que foi. Empurrado pra pegar no tranco, sem freio, carburador falhando, marchas pulando, escapamento dando tiros... Uma bateria de escola de samba ambulante...

Desanimado, endividado, aporrinhado, coloquei anúncio nos classificados. Preço bem abaixo do que eu havia comprado.

Vendi o carro no primeiro dia de anúncio. Um domingo. Eu morava na Estrada da Ponta Negra, balneário muito frequentado em Manaus. À tardinha, um cidadão voltando do banho, acho que meio embriagado, viu o carro, pechinchou mais ainda o preço e levou o carro na hora.

Que felicidade! Que felicidade!

Poucos dias depois, recebí no meu trabalho a visita do feliz comprador do Passat. Irado. Bufando pelas ventas porque o carro tinha "batido" motor. Exigiu que eu aceitasse o carro de volta ou devolvesse metade do dinheiro que ele havia me dado. A terceira opção era entrar na porrada.

Devolví metade do dinheiro!

2 comentários:

  1. Falta de sorte! Mas um carro com 3 anos de vida e neste estado? Muita falta de sorte mesmo!

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  2. Achei exagerados esses problemas em um carro com apenas 3 anos. Eu já tive um 79/79 LS, e seu antigo dono, tambem relaxado, carregava vários sacos de cimento na mala. O motor tava "batendo" biela, a cada 300km tinha que por uma lata de óleo, o fundo bem podre, cheio de buracos e isso foi em 1989... Mesmo assim, contra a recomendação de meu mecanico, viajei com a família (Mulher e tres filhos) até Umuarama-PR, do Rio +- 1200km só de ida. O carrinho não deu problema algum...

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