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terça-feira, 18 de maio de 2010

Meio míope

Míope sofre.

E sofre mais ainda o míope teimoso. O que não quer admitir que precisa de correção visual.

Até chegar a idade adulta eu fui do time dos muito mais.... MUITO-míope-e-MAIS-teimoso-ainda.

Por vergonha de usar óculos passei por várias situações que eu acharia cômicas se não tivessem acontecido comigo.

Na escola, ano a ano fui sentando gradativamente uma fileira mais à frente. Nas últimas séries eu já sentava na primeira fila e mesmo assim não conseguia ler o que estava escrito no quadro. Botava a culpa na letra miudinha das professoras e no giz ruim que elas usavam.

Nunca tive a certeza. Mas, até hoje acho que paquerei de longe uma menina e depois, de perto, namorei e casei com a prima dela.

Tomar ônibus errado já fazia parte do meu dia a dia. Eu usava uma tática. Procurava sempre os pontos que tinham muita gente. Assim, alguém sempre parava o ônibus e dava tempo de eu ler bem a placa.

Mas, em alguns horários isso não era possível. Pouco movimento. Meu ônibus vinha, ninguem fazia sinal e ele passava direto. Para meu desespero que as vezes já estava esperando há horas e via o último ônibus da noite ir embora...

Eu tinha vergonha de parar o ônibus e não subir. Foram muitas as vezes em que subi, paguei a passagem e desci no ponto seguinte para esperar o ônibus certo. Um dos que servia para mim era a linha "Vila da Prata", que eu confundia com o "Vila Buritis". Outro que me servia era o "São Jorge". Cansei de pegar o santo errado e ir pra outro rumo sem querer.

Me convenci mesmo da minha deficiência visual quando precisei aprender a dirigir. Eu já estava acima de cinco graus de miopia e seria tentativa de suicídio e homicídio ao mesmo tempo dirigir um veículo nessas condições.

Usei óculos por pouco tempo. Logo depois descobri as lentes de contato gelatinosas, com as quais adaptei-me maravilhosamente bem.

Nunca mais posei de Mr. Magoo.

Por Adriano Trinta

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