O Incrível Hulk

Década de 80. Praticamente todos os meus amigos da época eram da turma do voleibol. Os poucos que não se arriscavam a uns saques e manchetes iam ao menos para assistir. Reuniam-se  muita gente todas as tardes, sem precisar combinação. Todos na quadra do chiqueirinho, que tinha esse nome porque era de terra batida, quando chovia justificava o nome. De tanto treinar o time do chiqueirinho foi ficando esperto, ganhando torneios e fama no voleibol amador de Manaus. Daí abreviamos o nome de chiqueirinho para "CQ". Era mais social.

Bom! Mas a história é outra... É sobre o "Incrível Hulk", um Maverick - possante cupê 2.3 litros, seis cilindros, fabricado pela Ford em 1973. Compramos um. E quando falo "compramos" é no sentido muito amplo da palavra. O Maverick verde - daí o apelido carinhoso - foi comprado em sociedade. Fizemos uma "vaquinha" na turma, cada um colaborou com o que pôde conseguir em espécie e adquirimos o veículo de um professor, nosso vizinho. Por uma bagatela o carrão passou a pertencer a mais ou menos uns doze felizes proprietários. O possante estava até bonitão de aparência mas, cheio de probleminhas pra resolver, principalmente a documentação. Este problema nunca resolvemos, andávamos na clandestinidade. Isso só aumentava a emoção, aliado ao fato de nenhum de nós possuir carteira de habilitação. Um colega da turma era aprendiz de mecânico, um outro tinha um tio tapeceiro. E assim, de "queixo em queixo" fomos deixando o Maverick cada vez mais "presença". Faltava resolver um grave problema - o Maverick estava ruim de pneus. Aliás péssimo, não cabia mais remendo nas câmaras de ar e os pneus, já aparecendo os arames, não aguentavam passar sobre uma bagana de cigarro acesa.

Certa noite saíram alguns da turma no Maverick  para a  balada e tiveram a brilhante ideia - ganhar os pneus "no grito" - gíria da época para o que era conseguido, digamos, sem pagar nada por isso. Tinha um colega na turma que era praticante de halterofilismo, o Hígor - um gigante de dois metros de altura por um de largura. Ele estava nessa turma da balada noturna. Pois bem! Procuraram carros que tivessem pneus compatíveis com os do Maverick. Em bom estado, logicamente. O Hígor com sua força descomunal levantava o carro e os outros faziam o trabalho sujo. Tiravam um pneu da vítima e colocavam tijolos pra sustentar. Mas tiravam um só, que era pra não deixar a vítima sem condições de rodar. A não ser que ele não tivesse estepe, mas aí a culpa seria dele. Quem mandou andar desprevenido ?

Eu sei que no final dessa balada o Incrível Hulk estava com os pneus novinhos. Tinha até pneu sobressalente e muitas outras histórias pra contar depois.

Adriano Trinta