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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Goleiro de handebol

Minha primeira tentativa como esportista foi no handebol. Magrelo, não tinha porte físico que aguentasse o tranco, virei goleiro. Escolha infeliz. Se goleiro já é uma posição ingrata no futebol, no handebol é puro masoquismo. Tanto apanha quanto leva bolada. Sem falar do estigma natural da posição que é carregar a culpa pela derrota. Goleiro pode ir de herói a vilão em poucos segundos.

Estudava numa escola que tinha o melhor ginásio esportivo da época. Então era comum em nossos treinos a presença de atletas veteranos. Alguns até já consagrados, integrantes da seleção amazonense e até brasileira.

Numa dessas, faltava um para completar o coletivo e o treinador chamou o Piolho - ponta direita da seleção, um gigante que derrubava a trave com um arremesso só pra assustar o goleiro. Para meu azar Piolho entrou no time adversário. Pois bem... em determinada jogada lá vem Piolho já sem marcador, saí em "X", característica de goleiro de handebol, todo aberto... Piolho arremessou... bem onde não devia, no meio do "X"... Defendí o gol certo, mas passei muitos anos com a desconfiança de que jamais teria filhos.

Adriano Trinta

Paixão de menino

Filha de Dona Cleide e de seu Mário, Cleidemar escapou de ser batizada Maricleide, mas definitivamente qualquer dos dois nomes não fariam jus à beleza da dona.

Eu era ainda menino de tudo e Cleidemar apesar de ter a mesma idade cronológica já tinha ares de moça feita.

Estudávamos na mesma turma da escola. Naquele tempo as mesas eram para dois, sentávamos sempre juntos. Quem chegava primeiro guardava o lugar para o outro, dividíamos o lanche, ela sempre trazia alguma coisa diferente para comermos e eu retribuía com bombons sonho de valsa ou serenata de amor.

Foi minha segunda paixão, após a desilusão da primeira - minha professorinha do primeiro ano. Viví esse idílio por um ano inteiro. Até Cleidemar descobrir que era minha namorada e terminar tudo comigo.

Adriano Trinta

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Os embalos de sábado a noite

OS EMBALOS DE SÁBADO À NOITE

Que privilégio ter vivido os anos 70/80, no tempo das discotecas e dos embalos de sábado a noite. Sim! As baladas chamavam-se embalos e noite de embalo era o sábado. Discotecas eram o templo sagrado dos dançarinos, profusão contagiante de cores, luzes e sons. Onde os rapazes se transformavam em John Travolta e as moças em Olívia Newton John.

A produção visual era de lei. Muita cor, muito brilho da cabeça aos pés. Meu traje preferido era uma calça pantalonas de acetinado marrom, camisa branca de gola alta e indefectíveis sapatos caramelo - iguais aos do Travolta, claro. Corrente com crucifixo no pescoço, penteado armado no gel e estava pronto mais um Tony Manero - personagem central do famoso filme que dá titulo a este post. Não dançava como ele, mas que tentava, tentava.

Tenho saudade dos embalos daquela época. As baladas de hoje não chegam nem perto em animação e glamour. Não haviam os recursos tecnológicos nem as superproduções disponíveis atualmente, mas havia algo que não sei descrever exatamente e que fazia toda a diferença... Acho que era a grandeza da alma de artista que tomava conta de todos nós. Só isso... Ou tudo isso!

Adriano Trinta

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Peixe morre pelos olhos

Canoa amarrada num tronco de árvore, Tio Dico e eu na paciente espera do pescador desde cedo da manhã. Já era hora do almoço e nada de pegar peixe algum, a despeito dos tucunarés pulando no lago, provocadores em volta da canoa, mas fisgar que é bom, nem com nojo!

Tio Dico lastimava não termos levado equipamento algum além dos caniços, anzóis e iscas de pirão de farinha d´agua. Tivéssemos iscas artificiais e esses bichões não estariam fazendo graça dizia ele, com a autoridade de muitos anos de pesca. Segundo ele o tucunaré é facilmente atraído pelo multicolorido das iscas imitando peixinhos.  Isso não tínhamos, mas eu estava vestido com uma camiseta de tecido sintético da seleção brasileira, amarelo-canário, novinha...

A necessidade é a mãe da invenção. Rasguei a camiseta, enrolei cuidadosamente um pedaço imitando um peixinho e amarrei junto ao anzol.  O resultado não tardou a aparecer fisgado. Perdi a camiseta, mas almoçamos a mais deliciosa caldeirada de tucunaré de todos os tempos.

Adriano Trinta