Fui menino pobre, criado sozinho, sem muitos brinquedos e sem amigos para brincar. Construía meu próprio mundo com as coisas que havia em minha volta. Brincava muito com bolinhas de gude. Petecas, como eram conhecidas no lugar onde eu morava. E era com as petecas que vivia meus sonhos e fantasias de herói.
Assistia na TV aos episódios do Tarzan e reproduzia suas aventuras com as petecas. A maior delas, verde brilhante parecendo uma esmeralda era o Tarzan, logicamente. E essa petecona enfrentava índios, bandidos, caçadores, contrabandistas e malfeitores de toda espécie. Todos representados por petecas multicoloridas, menores e mais feias que o Tarzan. A Jane era uma petequinha colombiana, azul turquesa, ornada com uma cinta dourada. Formavam um belo par.
A casa do Tarzan era próximo ao registro do encanamento de água lá de casa. Vazava gota a gota permanentemente e embaixo era uma parte de areia branca que se transformava em minha imaginação num imenso rio com cachoeiras e corredeiras, em meio à vegetação cerrada da mata virgem, que nada mais era que algumas plantinhas que teimavam em proliferar no pequeno alagado.
Certo dia, enfrentando uma terrível quadrilha de contrabandistas de marfim, meu Tarzan foi mortalmente ferido. Ao saltar de um despenhadeiro de mais ou menos um metro de altura caiu em cima de uma pedra e quebrou-se ao meio. Utilizei todos os recursos disponíveis para salva-lo, mas nada deu certo. A vontade suprema do destino prevaleceu e essa foi a última aventura de Tarzan sob minha direção.
Por Adriano Trinta
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