Vitrine

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Papai Noel me enganou

Passei o ano inteiro sendo um bom menino. Em verdade eu era mesmo bem comportado. Mas, por via das dúvidas, não fiz nem as poucas traquinagens a que me atrevia. Eu queria muito que Papai Noel atendesse meu pedido, registrado em cartinha confiada aos adultos que se incumbiram de entregá-la ao destinatário.

Pedi um revólver de espoleta, desejo comum entre os meninos da época, para brincar de mocinho e bandido na rua. Naquele tempo não havia ainda proibição e os revólveres de brinquedo eram imitação perfeita dos de verdade. Era um desses que eu queria. Queria muito!

Depois de uma espera que a mim pareceu a vida inteira, finalmente chegou a noite de Natal. Fui deitar cedo. Não conseguia dormir de tanta ansiedade. Mas, em algum momento devo ter cochilado... Quando acordei estava ao meu lado o tão sonhado presente. Melhor dizendo, estava ao meu lado um presente... Mas, não era o tão sonhado! Era um revólver sim, mas não o que eu havia esperado tanto. Era grande demais, não era de metal, era de plástico amarelo, com uma imensa cara de boi desenhada em alto relevo na coronha preta, e o pior... não era de espoleta! Não imitava o estampido de um tiro de verdade. Mal fazia um "plec" de plástico seco...

Triste e desapontado, afivelei o coldre - sim, havia um coldre, com estrela de xerife, que de tão grande batia no meu joelho - e agradeci, pra não deixar triste o Papai Noel, que com certeza havia feito o melhor que podia.

Mas, tristeza pouca é bobagem! Eu havia falado para todos os meninos da rua que iria ganhar o tal revólver . Cedo a meninada estava à minha porta, chamando para brincar com eles. Todos com seus revólveres estalando espoleta, fazendo barulho, espalhando cheiro de pólvora no ar. Eu nem quis sair para brincar com eles. Tentei evitar a humilhação. Mas, criança é bicho cruel. Acabaram descobrindo meu imenso "revólver de matar boi", que foi como batizaram meu presente. Fui motivo de gozação por muito tempo na rua e perdi a crença em Papai Noel.

Por Adriano Trinta

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Giselda


Giselda era linda! Um galináceo de primeira linhagem, alimentada com arroz e afagos. Contradizendo os mais velhos, nem morreu nem ficou mofina por ter sido criada desde os primeiros dias sob os carinhos da criançada. Era nosso bichinho de estimação, participava de todas as brincadeiras, nos seguia feito um cão de guarda e agia como se fosse. Vigiava a gente. Tinha ciúmes e gostava de dengues. Só faltava falar. Mas entendia tudo e nós, crianças, a entendíamos também.

Passou-se o tempo e Giselda tornou-se uma bela e formosa fasianídea. Passeava faceira pelo quintal e em todos que a viam despertava desejos de gula. Menos em nós, crianças, que tínhamos por ela apego sentimental.

Certo dia, sumiu Giselda! Procuramos pelos arredores, em vão! Descobrimos tempos depois seu paradeiro. Foi levada pelo padeiro, que de madrugada passava distribuindo seu produto pelas tabernas próximas. Sempre cobiçou a Giselda e a teve... na panela de sua casa! 

Triste fim da bela Giselda!

Por Adriano Trinta